Home Office – Como o capitalismo transforma uma necessidade em perdas de direito e mais exploração

A crise do coronavírus impõe o isolamento, e com ele vem um aparato tecnológico gigantesco para garantir a execução dos trabalhos em casa. Em alguns locais de trabalho, inúmeras e exaustivas alterações de recursos de infraestrutura foram necessárias para que setores inteiros (de tecnologia a relacionamentos com clientes e etc), possam funcionar remotamente. Agora, é obrigatório que boa parte do trabalho possa ser feita de casa ou de qualquer lugar, com tudo compartilhado e online.

Esse tipo de procedimento se faz necessário em inúmeras empresas com milhões de trabalhadores em todo mundo. Essa obrigação em nome da saúde pública vai impor uma nova forma de produção por meses, sobretudo no setor de serviços. Mas setores industriais não sairão ilesos.

Nos setores em que trabalhadores já vinham sofrendo com essa perspectiva do trabalho a distância, como no setor bancário, a velocidade dessa migração vai se intensificar. As formas de controle do trabalho em casa acompanham. O tal do trabalho remoto, em geral, exclui o controle de jornada, mas controla a produção ou o quanto o trabalhador consegue fazer de casa por demanda de serviço. O trabalho em casa prioriza a  produção e a entrega em detrimento das horas trabalhadas. Apesar de sistemas que contam cliques e tempo online, o que muitas vezes dá pouco resultado , a imposição de maior produtividade dentro de casa domina.

O trabalho a distância em massa dará um bônus ao capital. O retorno à normalidade terá o acumulado dessa experiência para os que pensam sempre em como aumentar os lucros. A experiência de diminuição de gastos com aumento de produtividade em trabalhos remotos brilha aos olhos dos capitalistas. Empresas podem fazer reestruturações de processos de trabalho, formas de cooperação a distância e, sobretudo, cortes de pessoal. Afinal, os capitalistas verão que muitos trabalhadores poderão mudar suas jornadas e local de trabalho sem diminuir a produção. 

Esse bônus só se realiza com o uso intensivo de tecnologia móvel e sistemas integrados, que são administrados, produzidos e testados por nós, trabalhadores de T.I.Essa tecnologia é só mais uma produção que se volta contra nós, e os avanços passam a ser mais uma camada na exploração diária dos trabalhadores.

A tecnologia aparece como uma mágica: resolvendo problemas e propondo novas perspectivas positivas para a humanidade e seus avanços civilizatórios. Mas sob o domínio da busca incessante pelo lucro, ela se torna cruel, levando a demissões, a controles cada vez mais rigorosos e à miséria de muitos.

A reivindicação contra os abusos do trabalho em casa constam a tempos nas pautas dos trabalhadores. Afinal, com o mesmo salário, o trabalhador arca com os custos de energia, banheiro, água, limpeza, equipamentos, licenças de softwares e mais. Além disso, o trabalhador que sofre acidentes de trabalho ou tem problemas ergonômicos ao trabalhar em casa não é coberto por nenhuma proteção legal. Ou seja, é uma redução salarial e de direitos que está acontecendo hoje em massa e dá um bônus para os capitalistas: o salário que deveria aumentar para quem trabalha em casa vai diminuir.

Nos setores industriais, esse processo com certeza também acontece com mais força hoje.  Para muitos operários industriais, é impossível trabalhar em casa,mas eles também serão afetados. Produzir mais com um menor número de trabalhadores sempre foi uma meta dos capitalistas, e essa meta agora se realiza como cumprimento de uma questão de saúde pública. 

A tecnologia é fundamental para a contenção da disseminação de doenças contagiosas como o Covid-19. Mas o capitalismo transformará tudo isso em mais miséria via demissões e rebaixamentos (pela metade!) dos salários. Muitos nunca voltarão do home office não por estarem doentes, mas por que a  sociedade está doente de capitalismo. 

Nos solidarizamos e estamos juntos na defesa da vida dos trabalhadores para resguardar sua saúde. Eles devem ficar em casa e não serem obrigados a se deslocar ao local de trabalho. Mas o capital não dá ponto sem nó, e nossa luta continua.