A rotatividade da força de trabalho é um dos dados importantes para o mercado de trabalho. Ao se atentar para o ritmo de contratação e demissão realizadas pelos empresários, a análise da rotatividade revela a dinâmica da vida do trabalhador. O setor de tecnologia da informação tem uma das mais altas taxa de rotatividade em comparação com outros setores. Isso significa que o trabalhador da área de tecnologia está constantemente vivenciando novos processos de seleção e contratação, nova equipe, novo salários e atividades.
Há varias razões para que isso ocorra. As mais destacadas pelos empresários estão relacionadas as particularidades do setor: uma força de trabalho jovem que está constantemente em busca de novas experiências; a velocidade das mudanças das tecnologias e a necessidade de encontrar novas equipes que dão conta dessas inovações; o ritmo acelerado dos projetos que levam a desgastes da força de trabalho e necessidade de demissões e recontratações.
Certamente, todos esses fatores contam para o setor de tecnologia bater recordes de rotatividade. No entanto, há um fator fundamental que os empresários não falam: o uso da rotatividade como uma forma sistemática de reduzir salários. Isto é, demitir uma equipe inteira que passou a receber salários maiores, e contratar uma nova equipe com salários menores. Esse é o fator determinante para a alta rotatividade do setor.
A experiência de vida dos trabalhadores de T.I. revela esse processo. Basta conversar com os colegas de trabalho sobre as experiências de chegar numa nova equipe recebendo menos que os trabalhadores que foram demitidos e ter que fazer o mesmo serviço ou mais ainda. As novas contratações vem sempre cercadas de maior pressão para fazer mais com menos trabalhadores, recebendo menos salários.
Em estudo bastante preciso sobre a rotatividade dos trabalhadores no Brasil, o DIEESE, revela esse mecanismo dos empresários: “É expressiva, neste sentido, a constatação da perda salarial, seja em caso de retorno para o mesmo setor, ou seja para outro segmento
da atividade econômica, em todos os anos analisados no estudo, considerando os
trabalhadores desligados sem justa causa, motivo de desligamento tipicamente patronal e quantitativamente o principal tipo de desligamento praticado no “ajuste da mão de obra” no mercado de trabalho do Brasil, responsável por mais de 50,0% dos desligamentos no período analisado.”
Recentemente o setor de tecnologia viveu uma leva de demissões em massa e retirada de direitos dos trabalhadores, sobretudo de empresas multinacionais. O Inforproletários denunciou essas medidas em diversas empresas, como a GetNinjas, Stone, GymPass, entre outras. Para o trabalhador ficou claro que o lucro das empresas foi colocado acima de sua vida e a vida de seus familiares. Sobretudo no contexto da pandemia do COVID-19.
Passado essas demissões e retiradas de direitos, hoje essas mesmas empresas anunciam que estão em fase de expansão e contratando. O mecanismo perverso da rotatividade não para mesmo na pandemia, apenas confirmando que para os empresários a vida do trabalhador é apenas um número no seu cálculo incessante para a busco de mais lucros.
Mais uma vez, todo o discurso empresarial de responsabilidade social e melhores relações de trabalho revela-se pura hipocrisia. Quando precisa escolher entre manter os empregos dos trabalhadores ou garantir o lucro dos acionistas, as empresas não hesitam em jogar os trabalhadores à própria sorte.O Infoproletários é um espaço de organização dos trabalhadores de tecnologia e um canal de solidariedade. Nesse momento é fundamental denunciar e expor as atitudes dos empresários que colocam os lucros acima da vida. Compartilhe suas dificuldades com o Infoproletários em nossa página https://facebook.com/infoproletarios, e mandem mensagens também para nosso email infoproletarios@gmail.com.